De acordo com a Bíblia, Deus declarou que descansaria no sétimo dia da semana. Com o advento do cristianismo, o repouso dominical se tornou uma tradição de séculos, certo? Errado!
Instituto de Arte de Chicago
Apesar das aparências, o lazer aos domingos é um direito recente, conquistado com muita lulta
A adoção do domingo como dia de repouso (obrigatório em países como a França) tem um fundamento bíblico. De acordo com o Livro Sagrado, "Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou" (Gênesis 2, 2). A própria etimologia da palavra evidencia esse sentido: “domingo” deriva do latim dies dominicus, ou "dia do Senhor".
Os primeiros cristãos tanto respeitavam o descanso que o judaísmo reserva ao sábado quanto celebravam o dia seguinte, tido como data da ressurreição de Cristo. A Igreja, ainda em seus primórdios, já proclamava a obrigação de assistir às missas no sétimo dia, embora não contasse com nenhum respaldo legal. A situação se alterou quando o imperador Constantino, em 321, fixou o “dia do Senhor” como feriado no Império Romano. Na prática, porém, a obrigação de comparecer às atividades religiosas se impôs muito mais que o direito ao repouso semanal.
No século XVIII, os filósofos iluministas chegaram a desenvolver toda uma argumentação para enaltecer as vantagens do trabalho aos domingos. De acordo com o artigo que a célebre Enciclopédia dedicou ao dia, determinada comunidade se beneficia quando suas atividades econômicas não são interrompidas no “dia do Senhor”. Anos mais tarde, durante a Revolução Francesa, o tradicional calendário gregoriano foi suprimido e substituído por um novo, que instituiu a semana de dez dias e, seguindo a política de erradicação de qualquer referência religiosa, eliminou o domingo. O antigo calendário foi restabelecido somente em 1806, sob o governo de Napoleão.
Uma das primeiras tentativas de imposição do repouso dominical ocorreu na França em 1814, quando o governo dos Bourbon aprovou uma lei para a “santificação do domingo”. A decisão só valeu até a ascensão, 16 anos depois, da monarquia burguesa de Luís Felipe I, que deixou de aplicar sanções aos que desrespeitavam o descanso no “dia do Senhor”. Em 1880, essas leis foram totalmente abolidas.
O efeito desse recuo se fez sentir especialmente nas regiões industrializadas, nas quais operários sofreram com a perda do benefício e passaram a se organizar para reconquistá-lo. Essa luta levou à adoção de princípios que permanecem em vigor ainda hoje na França, além de inspirarem as legislações de vários outros países. O principal deles é o direito a um repouso de 24 horas após seis dias de trabalho.
Ainda assim, a escolha do dia de descanso ficava a cargo do empregador. Os católicos defenderam o caráter familiar do domingo, apoiados por alguns deputados de esquerda. Aproveitou-se também o fato de que o descanso das mulheres e crianças ocorria geralmente no sétimo dia. Em 13 de julho de 1906 foi votada, enfim, a lei que concedeu o repouso dominical. Conforme a medida ganhava força, passando a ser verdadeiramente aplicada só depois da Primeira Guerra, o “dia do Senhor” perdeu cada vez mais seu caráter religioso.
Longe de ser uma tradição que remete a tempos imemoriais, o direito ao lazer no domingo é recente e foi adquirido à custa de muita luta. Até quando?
FONTE: HISTÓRIA VIVA
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